Analisar criticamente o Relativismo Cultural implica em discutirmos questões relacionadas à ética moral, a valores objetivos, à subjetividade; ao que pode ser considerado como ‘valor perene’ ou ‘valor passageiro’.
As idades Moderna e Contemporânea, através da Ciência, muito fizeram para sair do mundo do fundamentalismo baseado na dicotomia do “certo” e do “errado”, do “bem” e do “mal”; na religião: do “Céu” e do “Inferno”. Isso, de alguma forma, abriu caminho, criou terreno propício ao paradigma da relativização das coisas, de tudo. Havia, então, uma vontade imensa de se sair do mundo radical da Idade Média, onde tudo era posto numa mesma “balança” e “pesado” como absolutamente certo ou absolutamente errado. É, então, quando entra em cena o Relativismo Cultural.
No texto de Harry Gensler intitulado Ética e Relativismo Cultural, o autor aborda o tema de forma bastante cautelosa com relação ao modismo da aceitação – pela sociedade – do relativismo cultural. O autor expõe o perigo que pode advir de uma total e irrestrita aplicabilidade do relativismo cultural. E para fazer isso, põe em evidência um axioma que precisa ser levando em conta quando se trata de aceitar ou seguir determinado paradigma: ética moral. Harry Gensler argumenta a favor de uma ética que se apresenta como imprescindível em toda e qualquer cultura ou sociedade, independentemente daquilo que adote como leis ou costumes. Nesse ponto, o autor vai mostrando os argumentos falaciosos impetrados por aqueles que defendem o relativismo cultural quando estes querem convencer que o certo ou o bem é o acordado entre a maioria de uma determinada cultura ou sociedade. Daí o seguinte argumento falacioso: o que pode ser ético na tua cultura, não o é na minha; o que é saudável para o bom convício no teu meio social, não é o tampouco para o meu; e assim por diante. Partindo desse pressuposto, pode-se querer justificar todo e qualquer costume ou lei. Há, aí, uma perda substancial da criticidade em relação às coisas (físicas ou metafísicas) que ‘tecem’ a ‘teia’ da sociedade. SHAFFER (2005) em seu manual de Psicologia do Desenvolvimento: infância e adolescência relata comportamentos outrora aceitos pela maioria de uma determinada cultura sobre a infância, por exemplo, que hoje são absolutamente considerados inaceitáveis por estarem completamente contrários ao eticamente concebível: “pesquisas arqueológicas (...) mostraram que os antigos cartagineses freqüentemente matavam crianças em sacrifícios religiosos e as colocavam nas paredes das construções para “fortalecer” essas estruturas”. Mais adiante o mesmo autor relata que “pais romanos eram legalmente autorizados a matar seus filhos se estes fossem deformados, ilegítimos ou não desejados”. E ainda sobre a educação de crianças, cita que “... os meninos de Esparta eram retirados de suas casas e colocados em barracas públicas, onde eram freqüentemente espancados ou subalimentados para adquirirem a disciplina necessária para se tornar guerreiros”. Poderíamos aqui também citar os casos de infanticídio até hoje praticados em algumas comunidades indianas: trata-se de bebês do sexo feminino que são mortos pelos pais ao nascer. Os mesmos pais preferem sacrificar essas crianças a ter que pagar o dote das mesmas quando estas estariam na idade de casar. Nas sociedades indígenas brasileiras, muitos jovens são duramente penalizados (sacrificados fisicamente e psicologicamente) em rituais de passagem da fase de criança para fase de adulto: meninas são isoladas por semanas seguidas em uma gruta escura e meninos têm suas mãos expostas a picadas de formigas africanas. Para finalizar, poder-se-ia citar os casos bem graves de mutilação feminina que acontecem até hoje em algumas regiões asiáticas, em alguns povos islâmicos e em muitas comunidades africanas. Casos que já foram denunciados pela UNICEF e pela ONU, pois vão de encontro com A Declaração Universal dos Direitos Humanos. É o que se constata em um “site” sobre o assunto: “um relatório recente da organização mundial da saúde condena a prática, afirmando que causa infecção, “dor estarrecedora” e ferimentos graves de longo prazo”.
Finalmente, podemos claramente perceber a discrepância existente entre o Relativismo Cultural e os artigos que compõem os Direitos Universais do Homem. Levando em conta, principalmente, os primeiros sete artigos, cujos preceitos rezam em favor da igualdade perante a lei no que diz respeito ao nascimento, cor, sexo, religião, nação; que não podem ter seus direitos violados no que concerne à servidão, aos maus tratos (físicos ou psicológicos); cerceamento da liberdade de locomoção – direito de ir e vir – como também não “agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”. (Art. I). Portanto, há que se compreender que existe uma ética universal que contempla a todos os povos, nações e etnias, independentemente de cultura, costumes e época. Os Direitos Universais são a base dessa ética que não deve ser relativizada. Deve ser o código de inspiração para que todos possam desfrutar da Igualdade Universal
Perceber, então, como temas sociais que estão imbuídos de conceitos intricados, - e, que, portanto, norteiam paradigmas, - podem ser mal compreendidos e mal interpretados à luz de sofismas.
Portanto, ‘mergulhar’ nesse assunto nos trouxe reflexões críticas sobre como idiossincrasias podem se configurar como expressões inteligentes sob a égide do “politicamente correto”.
4. REFERÊNCIAS
SHAFFER, David R. Psicologia do Desenvolvimento: infância e adolescência. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.
OBRAS CONSULTADAS “ON LINE”:
http://criticanarede.com/fil_relatcultural.html
http://observatoriodamulher.org.br/site
http://www.adur-rj.org.br/5com/pop-up/mutilacao_feminina.htm
http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm
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