segunda-feira, 4 de outubro de 2010

SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NA EUROPA, ESTADOS UNIDOS E BRASIL SUAS BASES COM O CAPITALISMO MONOPOLISTA E A IGREJA CATÓLICA

O capitalismo monopolista teve influência sim no surgimento da profissão de assistente social, na medida em que “a diferenciação e os antagonismos entre as classes se acentuavam e o desenvolvimento do capitalismo, em sua fase mercantil, introduzia significativas alterações na estrutura, relações e processos sociais”. Portanto, a estória do serviço social está claramente vinculada a mudanças que se estabeleceram no decorrer de vários séculos relacionados à efervescência de fatos sociais, culturais e econômicos provindos do capitalismo já citado acima, das revoluções industrial e francesa, lutas de classes, surgimento da burguesia, dentre outras coisas, “o que lhe imprime um movimento contraditório e complexo, que se expressa tanto por momentos de lentidão como por outros de intensa atividade, capazes de determinar uma repentina mudança na direção do fluxo histórico” e, ainda mais, “de promover a transição de uma época histórica e sua estrutura social para outra”. Entretanto, somente a partir dos anos de 1930 e de 1940 é que o (...) “Estado assume a regulação das relações de classe mediante um conjunto de medidas e (...) busca enquadrá-las juridicamente visando à desmobilização da classe operária e o controle das tensões entre as classes sociais”. (SANTOS,2006).

As questões sociais da época sofriam influência de ideologias européias centradas na Moral e no assistencialismo, portanto serviam como aparato para os aparelhos repressores do Estado. Era o serviço social usado, então, para “apaziguar” os conflitos sociais. Entretanto, diante das questões cada vez mais complexas que se inseririam em um mundo com demandas técnicas mais exigentes, necessário se faria se identificar com um serviço social que apresentasse respostas a tudo isso; respostas essas relacionadas a uma sistematização apurada das teorias ditas sociais: agora era imprescindível trazer conhecimento científico e técnico ao invés de aceitar somente a contribuição moralista e assistencialista inspirada pelos europeus. Foi então que surgiu a influência americana para o serviço social brasileiro. Essa última satisfaria, em parte, essas exigências do momento, já que estava vinculada a questões muito mais científicas.

Com relação à influência da Igreja Católica sobre o serviço social, pode-se fazer algumas considerações pertinentes. A primeira dessas considerações tem a ver com o vínculo criado entre a Igreja Católica e o surgimento do Serviço Social; vínculo este baseado no interesse da Igreja de recuperar sua imagem de “protetora dos mais pobres, dos mais humildes”; nas palavras de MIRANDA & CAVALCANTE “O surgimento do Serviço Social no Brasil se dá vinculado à Igreja para a recuperação e a defesa dos seus interesses junto às classes subalternas e à família operária ”ameaçada” pelas idéias comunistas.” Para Cláudia Mônica dos Santos (2006), a Igreja Católica esforça-se para atuar na área social preocupada não apenas com as idéias comunistas que estavam crescendo, mas também pela presença na sociedade do liberalismo, pelas idéias contundentes do positivismo e pela nova “cara” que o Estado assume, no caso, a República. Ainda citando SANTOS (2006), a mesma estabelece o início do século XX e a promulgação da encíclica Rerum Novarum como períodos demarcatórios da intervenção da Igreja nas questões sociais: “Na década de 1930, a Igreja busca consolidar sua posição na sociedade civil ao mesmo tempo em que o Estado busca o seu apoio. Dessa forma, Igreja e Estado se aliam” e, cabe acrescentar, que se os dois se aliam “... no sentido de buscarem uma resposta minimamente satisfatória aos anseios do proletariado”. Uma das formas de atuação da Igreja foi a criação, na cidade de São Paulo, do Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) que tinha como objetivo “promover a formação de seus membros pelo estudo da doutrina social da Igreja e fundamentar sua ação nessa formação doutrinária e no conhecimento aprofundado dos problemas sociais” (CERQUEIRA, apud IAMAMOTO, 1985:173). SANTOS (2006) acrescenta ainda que o CEAS se ocupava da formação de quadros especializados para a ação social e a difusão da doutrina social da Igreja. A autora também diz que como o CEAS tinha pretensão de atingir donzelas católicas para intervir junto ao proletariado, o mesmo cria as primeiras escolas de Serviço Social em 1936 e 1937 nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente. No entanto, é preciso esclarecer as verdadeiras intenções do CEAS, que não buscava entender nem se aprofundar nos problemas sociais, entendendo-se aqui como problemas sociais, as questões relacionadas às problemáticas do sistema socioeconômico e cultural. O CEAS, antes de tudo, buscava relacionar as questões sociais a questões puramente individuais, e isso, sob a ótica da ética moral católica e da caridade. É o que vemos em SANTOS (2006): “Para resolver os problemas sociais, a solução estaria no restabelecimento da “ordem social” através da justiça e da caridade”. O foco de atuação do CEAS era a “adaptação do indivíduo ao meio, bem como pesquisar as causas e os problemas sociais a fim de prevenir sua ocorrência, reforçando a idéia de que as causas das mazelas sociais se encontravam no indivíduo”. (SANTOS, 2006).

Ainda sobre o CEAS, convém falar mais um pouco sobre sua atuação. O mesmo “não se limitava ao debate teórico dos problemas sociais, mas promovia para suas sócias visitas a instituições e obras sociais, criando também quatro centros operários em São Paulo, ainda em 1932” (Yazbek, 1977).

Na década de 30 do século XX, o CEAS “através de aulas de trabalhos manuais, palestras, (...) conselhos sobre higiene e a vida social”, tentava (...) “atrair” as mulheres operárias (...) e entrar em contato com a classe trabalhadora”. Mais tarde estaria sendo aberto outros “canais” de atuação da elite operária católica sobre a classe operária, exemplo disso seria a criação da Juventude Operária Católica que serviria “como campo de estágio prático para as alunas da Escola de Serviço Social”. Nesse ínterim, duas mulheres brasileiras foram enviadas à Europa – mais precisamente para Bruxelas, na Bélgica – para lá fazerem o curso de Ação Social. Foram enviadas pelo Cardeal Mercier e das Ligas Operárias Femininas. São elas: Maria Kiehl e Albertina Ramos. Poucos anos depois seria fundada a Escola de Serviço Social de São Paulo, “que vai mesclar as visões francesa e belga, a partir de uma perspectiva ética, social e técnica da formação profissional”. Assim, “a relação orgânica com a Igreja Católica vai imprimir à profissão (...) um caráter de apostolado social apoiado em uma abordagem da questão social”, e, diga-se de passagem, “como problema moral de responsabilidade individual dos sujeitos”. Os estudiosos mostram que nesse momento “a contribuição do Serviço Social (...) incidirá sobre valores e comportamentos de seus “clientes” na perspectiva de sua integração à sociedade, ou melhor, nas relações sociais vigentes”. Portanto, o enfoque dado é o “psicologizante e moralizador centrado no indivíduo e na família”. Concluindo, a Igreja Católica exerceu influência direta nas primeiras décadas do século XX através de intervenções ideológicas e pragmáticas sobre os agentes sociais, como foi citado acima.

Com relação às condições históricas e práticas sociais que deram origem ao surgimento do serviço social no Brasil, vê-se que “as organizações sociais direcionadas à caridade e mantidas pelo clero e leigos, possuem uma longa tradição, remontando aos primórdios do período colonial”; portanto, “a existência de infra-estrutura hospitalar e assistencial, mesmo reduzida e precária, se deve à ação das ordens religiosas européias que se implantaram e se disseminaram”. (BOGADO & BRANCO, 2009). As questões sociais da época sofriam influência de ideologias européias centradas na Moral e no assistencialismo, portanto serviam como aparato para os aparelhos repressores do Estado. Em BOGADO & BRANCO (2009) lê-se: “a prática social desenvolvida pelo Serviço Social europeu sob influência da Igreja Católica, teve como preocupação maior a questão da pobreza”. Era o serviço social usado, então, para “apaziguar” os conflitos sociais. “Apesar da resistência da classe operária em busca de aderir aos serviços e auxílios prestados pela Sociedade de Organização da Caridade, seu predomínio era presente em todas as práticas assistenciais”. Sendo assim, “não somente no espaço inglês ou europeu, mas acompanhava o fluxo ascensional da pobreza e da miséria”. (BOGADO & BRANCO, 2009). Nesse sentido então, há grandes semelhanças entre o Serviço Social brasileiro – nessa época – e o Serviço Social Europeu. Entretanto, diante das questões cada vez mais complexas que se inseririam em um mundo com demandas técnicas mais exigentes, necessário se faria se identificar com um serviço social que apresentasse respostas a tudo isso; respostas essas relacionadas a uma sistematização apurada das teorias ditas sociais: agora era imprescindível trazer conhecimento científico e técnico ao invés de aceitar somente a contribuição moralista e assistencialista inspirada pelos europeus. Foi então que surgiu a influência americana para o serviço social brasileiro. Essa última satisfaria, em parte, essas exigências do momento, já que estava vinculada a questões muito mais científicas. No início, no entanto, o serviço social americano tinha caráter também individual, “nos Estados Unidos, apesar de muitos aspectos em comum com a prática social da Europa, no suceder dos tempos a prática social mostrou-se com outro contorno”. Esse contorno estaria ligado à necessidade da busca por conhecimentos da Psicologia e da Psicanálise, “a busca por conhecimentos científicos ocorreu especialmente na área da Psicologia e da Psicanálise, da Medicina, e, em menor escala, do Direito”. Além disso, “a abordagem tinha como ênfase o individual, mas também era direcionada para a reforma do caráter”. (BOGADO & BRANCO, 2009). Nas palavras de MIRANDA & CAVALCANTI “Nos anos de 1940, a bipolarização ideológica, o Welfare State e o modelo fordista de produção vão exigir uma nova forma de controle por parte do Estado”. Essa nova forma de controle por parte do Estado é “pautado no consenso/coesão entre as classes, daí o uso da perspectiva da anormalidade, que exigia uma ação psicologizante”.

Foi a partir da preocupação com a técnica em detrimento da ética moral, que, no Brasil, o Serviço Social passa a deixar de se espelhar no modelo europeu e volta-se para o modelo americano. É o que se vê em SANTOS (2006) apud JUNQUEIRA (1980:4) quando diz que a postura da formação profissional resultou em uma “quase ausência de métodos e técnicas na concepção européia do Serviço Social” “(...) fazendo com que o Serviço Social buscasse o aporte norte-americano.

Nesse período, aqui no Brasil, havia uma conjuntura sócio-econômica que condizia com o modelo norte-americano de serviço social. As mudanças decorrentes de uma industrialização crescente no nosso país exigiam um serviço social mais sistemático-científico. A velha fórmula européia inspirada nos moldes católicos a partir de uma abordagem no indivíduo, e, diga-se de passagem, escondendo as reais intenções subjacentes ao sistema capitalista e burguês, não mais se sustentava diante das novas e desafiantes necessidades das classes operárias e trabalhistas. SANTOS (2006) assim se expressa: “(...) que a formação caracterizava-se, nesse período de gênese do Serviço Social, por uma preocupação com as técnicas” . Apesar da preocupação, agora, com a técnica, o autor acima ressalta que “a técnica deveria estar a serviço da moral doutrinária e não o contrário”.

A partir de 1940, o Estado, levando em conta toda a conjuntura de uma burguesia industrial e o crescimento do proletariado urbano, criou instituições de assistência; seriam as assistências classificadas como estatais, paraestatais e autárquicas.

Finalizando, “foi o surgimento das grandes instituições executoras de políticas sociais” que “constituiu o mercado de trabalho do Assistente Social, cujas bases de legitimação foram se deslocando para o Estado e setores empresariais da sociedade”.

Pude constatar – no decorrer das pesquisas bibliográficas – que muitos fatos e questões de cunho histórico-religioso deram suas contribuições decisivas no desenrolar dos acontecimentos para a implementação do serviço social como ciência e profissão.

Também foi gratificante para mim, o fato de relacionar a origem do serviço social no Brasil e sua correlação com o serviço social na Europa, e, mais adiante, nos Estados Unidos da América.

Acompanhar textualmente os assuntos no início do trabalho foi o ponto de partida e inicial para que eu pudesse, a partir daí, fazer uma segunda leitura, fazer os recortes necessários e perceber as razões ou motivos subjacentes ao que me estava posto na leitura linear. Em outras palavras, tive que usar de criticidade – e, para isso, autores como Martinelli, Santos, Bogado, Branco, dentre outros, muito me ajudaram – para entender as “manobras” usadas pela Igreja e pelo Estado na constituição dos fazeres sociais. Perceber o papel dos “agentes sociais” numa ótica histórica e entender o porquê de suas atitudes. Compreender as mudanças no sistema e inferir quais ideologias os agentes envolvidos – no caso, os assalariados e o proletariado (os operários das fábricas, principalmente) e quais exigências provindas de mudanças efervescentes num modelo econômico que se fazia mais exigente no tocante à sistematização do saber, no caso, o saber universitário. Daí, portanto, a necessidade imprescindível de se sair de um serviço social assistencialista e de cunho ético moral e religioso para um serviço social baseado em técnicas sistematicamente construídas a partir dos estudiosos das ciências sociais. O caminho percorrido até aí foi longo e tivemos, no início, escolas fundadas a partir de brasileiros que se deslocaram até a Europa, mais especificamente em Bruxelas, na Bélgica, e de lá trouxeram o saber necessário para a fundação dessas escolas. Depois tivemos a contribuição do pensamento norte-americano no que tange à técnica do saber mais científico, e, conseqüentemente, mais sistemático.



R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S

BOGADO, Francielle Toscano; BRANCO, Patrícia Martins Castelo. Fundamentos, históricos, teóricos e metodológicos do serviço social I. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.

CERQUEIRA apud IAMAMOTO, 1965:173. In: SANTOS, Cláudia Mônica dos. Os instrumentos e técnicas: mitos e dilemas na formação profissional do assistente social no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006. Extraído de http://www.ess.ufrj.br/teses 2006/cláudia-monica.pdf.

MIRANDA, Ana Paula Rocha; CAVALCANTI, Patrícia Barreto. O Serviço Social e sua ética profissional. In: Revista Ágora: Políticas Públicas e Serviço Social, ano 1, nº 2, julho de 2006 – ISSN – 1807-698X. Disponível em http://www.assistentesocial.com.br

SANTOS, Cláudia Mônica dos. apud JUNQUEIRA, 1980:4. Os instrumentos e técnicas: mitos e dilemas na formação profissional do assistente social no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006. Extraído de http://www.ess.ufrj.br/teses 2006/cláudia-monica.pdf

YAZBEK, Maria Carmelita. Estudo da evolução histórica da Escola de Serviço Social de São Paulo no período de 1936 a 1945. São Paulo: PUC, 1977.

13 comentários:

  1. Por acaso as suas acusações contra a Igreja Católica em usar de assistencialismo para melhorar sua imagem, não seria facilmente cabida em um partido socialista? Acredito que a sua visão negativa das coisas que foi imputado no seu cerebelo em diversos tipos de mídias anti imperialistas pode ter afetado seu senso de julgamento. A Igreja antes mesmo de ter sido fundada em 313 DC já praticava o assistencialismo, pois a igreja não é feita pelas mãos de homens apenas, ou templos e sim um conjunto de Cristãos que querem pregar o amor ao próximo como a ti mesmo e o amor a Deus que é o agradecimento pela vida e oportunidade de fazer a diferença, ou mesmo em ter uma identidade única perante todos os outros seres vivos que habitam o universo. O que você propõe é que o projeto social só veio com influência capitalista como se fosse algo novo na história da humanidade! Aconselho a pesquisar melhor por fontes menos tendenciosas e pregar um senso de justiça imparcial. Aconselho também a você buscar entender o sentido da palavra CARIDADE e quando ela começou a ser exercida.

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    1. Rodrigo deixe de fanatismo e estude mais.

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    2. Concordo com o Rodrigo. Caridade, hoje muito chamado de assistencialismo, sempre existiu a séculos, não uma coisa que veio com o Capital, mas com o Capital teve que sim fazer um assistencialismo obrigatório, pois a população que vive na pauperização teve seu aumento significativo.

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  2. muito bom esse artigo consegui tira minhas duvida obrigada

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  3. Estava em busca de respostas e entendimento , já que sou estudande. Muito bom

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  4. muito bom o artigo , acredito que todos comentarios acima sejam de grande valia , pois bem sabemos que a troca de pensamentos pode nos direcionar a verdade ou aprimorar o mundo das ideias .

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  5. Muito bom.. As apostilas me confundiam, mas agora tenho um resumao de tudo, e vou continuar lendo!

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  6. Sensacional ,até favorítei o texto.

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