quinta-feira, 25 de novembro de 2010

ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO


Desde os primórdios da terra, o homem se viu frente à necessidade de se organizar em grupos e a viver em conjuntos. Diante dessa necessidade é que surgem as várias formas de organização da sociedade.

É bastante perceptível que desde a época do Brasil colônia, por exemplo, essas relações de convivência vão se desestabilizando, devido principalmente aos interesses econômicos, que vão sendo implantados na sociedade pouco a pouco.

Contudo as primeiras relações de trabalho criadas em séculos anteriores, vão se modificando ao longo do tempo, e na sociedade contemporânea tendem a se tornarem instáveis devido ao fenômeno que denominamos de globalização e também a permanente consolidação do capitalismo na sociedade como forma única de sustentação cultural, política e econômica do país.

E em meio a esse contexto de grandes mudanças no ambiente de trabalho, é que surgem as críticas e preocupações quanto às relações estabelecidas entre os indivíduos em tal ambiente, pois se tem percebido que há vários agentes que podem interferir em tais relações que prejudicam o funcionamento da vida coletiva e individual. E o principal agente identificado que pode intervir na vida social do indivíduo, é o Assédio Moral no Trabalho.

Assédio Moral “É a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções” segundo o “site” assédio moral.

É importante lembrar que o assédio moral no ambiente de trabalho não é um fato novo, mas tão antigo quanto o trabalho, advindo, por exemplo, da época do Brasil colônia citada anteriormente, onde os índios e escravos eram subordinados aos colonizadores, e/ou na época do engenho, onde os escravos eram forçados a trabalhar sobre torturas e outros tratamentos humilhantes, na monocultura do açúcar.

Por isso esse tipo de comportamento - assédio moral no trabalho - tem sido alvo de várias discussões acerca principalmente da saúde e equilíbrio da sociedade, neste caso também da empresa, e, fundamentalmente, da vítima. Pois esse tipo de assédio pode muitas vezes causar danos irreparáveis à saúde física, mental e social do indivíduo, tornando o indivíduo algumas vezes incapaz de engajar-se num grupo social, assim como afirma Freitas (2004, p. 04): “O assédio provoca vários problemas na saúde, particularmente os de natureza psicossomática, de duração variável, que desestabiliza a vida do indivíduo”

Mediante esse contexto, é que o assédio moral no local de trabalho tem ganhado destaque e adquirido grande importância no campo das ciências sociais, principalmente dentro da psicologia social, pois alguns autores a classificam como, ciência que tenta compreender e explicar o modo como o pensamento, o sentimento e o comportamento dos indivíduos são influenciados e determinados pelo comportamento e características dos outros.

Apesar de o assédio moral ser algo já bem antigo, a discussão de forma mais veemente e sistemática tem acontecido nas últimas décadas. É o que diz o texto Assédio moral: a dignidade violada de Roberto Heloani: “a discussão sobre assédio moral é nova. O fenômeno é velho” No texto já citado anteriormente lê-se algo sobre o início das discussões sobre o assunto:A reflexão e o debate sobre o tema são recentes no Brasil, tendo ganhado força após a divulgação da pesquisa brasileira realizada por Dra. Margarida Barreto”.

Já tem sido comprovado por trabalhos publicados na área de Psicologia Social que o assédio moral no trabalho prejudica o rendimento do trabalhador na medida em que toca seus sentimentos de forma negativa e deixa esse mesmo trabalhador com problemas de auto-estima. “A humilhação repetitiva e de longa duração interfere na vida do trabalhador e trabalhadora de modo direto, comprometendo sua identidade, dignidade e relações afetivas e sociais, ocasionando graves danos à saúde física e mental” (www.assediomoral.org).

O assédio moral não é um fenômeno puramente nacional; acontece em todo o mundo e se manifesta de acordo com a cultura de cada país. É o que se constata no já citado “site”: “A violência moral no trabalho constitui um fenômeno internacional segundo levantamento recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) com diversos países desenvolvidos”. (idem., ibid.,)

Uma das manifestações mais contundentes do assédio moral é a humilhação propriamente dita no trabalho. Com relação às fases de humilhação no trabalho – parte essencial do assédio moral – pode-se dizer que ela é classificada em dois setores: o vertical e o horizontal. “O fenômeno vertical se caracteriza por relações autoritárias, desumanas e aéticas, onde predomina os desmandos, a manipulação do medo, a competitividade, os programas de qualidade total associado a produtividade”. (idem., ibid.,). Por outro lado, o horizontal se caracteriza por estar “relacionado à pressão para produzir com qualidade e baixo custo. O medo de perder o emprego e não voltar ao mercado formal favorece a submissão e fortalecimento da tirania”. (idem., ibid.,).

Inspirados na ideologia neoliberal da competição, as empresas sufocam os funcionários ou trabalhadores, inculcando-lhes a responsabilidade de serem sempre os melhores e estarem sempre na linha de frente, pisando e ultrapassando quem quer que seja. “A competição sistemática entre os trabalhadores incentivada pela empresa, provoca comportamentos agressivos e de indiferença ao sofrimento do outro”. (idem., ibid.,).

Na Suécia e na França, através de Heyns Leymann e Marie-France Hirigoyen, começaram estudos inovadores no que diz respeito às colocações dos psicanalistas e psiquiatras americanos. Estes últimos afirmavam que boa parte dos assédios morais sofridos pelos indivíduos davam-se, de alguma forma, por conivência ou masoquismo desses mesmos indivíduos. Assim “debitam boa parte da culpa ao agredido, como se de certa forma este estivesse conivente com o agressor ou desejasse inconscientemente a própria situação de agressão, por masoquismo ou mesmo por expiação de culpa”. (HELOANI). A partir dos estudos desses dois psicanalistas, aumentou-se o interesse em se aprofundar sobre as questões relativas ao assédio moral. No Brasil, esses estudos foram feitos por Margarida Barreto (2000) “junto a 2072 trabalhadores de 97 empresas dos setores químico, farmacêutico, de plásticos e similares, de portes variados, dentro da região da grande São Paulo”. (idem.,ibid.,).

Os assédios morais se dão, na maioria dos casos, nos ambientes de trabalho, no momento em que as pessoas estão exercendo suas funções empregatícias. Nesse contexto, o chefe ou patrão ou mesmo colega de trabalho busca sistematicamente “diminuir” o colega ou “subalterno”. Para isso usa dos mais variados recursos psico-comportamentais: olhares altivos, voz ríspida e grosseira, gesticulação usando o indicador contra o outro a quem se dirige piadas irônicas, insinuações visando a desqualificar profissionalmente o outro, termos pejorativos com o intuito de humilhar, rebaixar o outro, etc. Na verdade, esses agressores se sentem inseguros e mal-resolvidos com relação a eles mesmos e tentam, assim, disfarçar o desequilíbrio e o insucesso deles e projetar-nos outro aquilo que eles não aceitam em si mesmos. Muitas vezes, para se comportarem dessa maneira, usam do subterfúgio de serem hipersensíveis e não “suportarem” as deficiências ou fraquezas do outro.

A psicologia social tem ampliado seus estudos baseados nessa temática, pois tem se tornado preocupante o aumento dos casos de violência moral no ambiente de trabalho e os danos e conseqüências trazidas à vítima e a empresa também. Pois esse tipo de comportamento faz com que a empresa se torne um local de conflitos e competição, gerando assim uma diminuição da produtividade econômica da empresa, e para a vítima a deteriorização das relações de trabalho acarreta uma série de acontecimentos que influenciam negativamente na vida do indivíduo. Não é raro, portanto, que as mulheres – que são as que se sentem mais atingidas – procurem ajuda psicológica. No entanto, cabe ressaltar, que quando essa mulher dá conta realmente que está sofrendo esse problema, o mesmo já tem se enraizado dentro dela, “que a leva a um processo depressivo em que não encontra mais forças e em relação a que nem mesmo possui ânimo para reagir”, diz Heloani.

O Serviço Social por sua vez também adquiriu um papel importante, pois cabe a ele ter a iniciativa de promover a qualidade de vida dos funcionários no seu local de trabalho, como mediador principal de projetos sociais voltados para a prevenção e intervenção de tais práticas de assédio no local de trabalho. Pois o profissional do Serviço Social tende a promover também a integração dos indivíduos nos grupos sociais, desenvolvendo atividades para um maior desempenho e uma maior qualidade de vida desses indivíduos, seja no âmbito físico, mental e/ou social.

De acordo com Batista (2004): “O serviço social como ocupação profissional de saúde, estabelece algumas funções primordiais: ajustar as causas que influenciam na saúde dos trabalhadores; relacionar as queixas e sintomas com as condições de trabalho na finalidade a promoção de saúde”. Finalmente, convém citar ainda mais algumas das principais contribuições que poderiam se dar nas seguintes ações: o código de ética, por meio do departamento de Recursos Humanos da empresa, para dar ao trabalhador agredido o direito de denunciar a agressão de que tenha sido vítima; um efetivo processo de humanização do trabalho; espaço público ou espaço de discussão, onde os membros da organização pudessem expor seus problemas, angústias e expectativas, facilitando o entendimento (ação comunicativa), e, por conseguinte, entender que o problema não é individual, trata-se de um fenômeno que envolve interações sociais complexas

Foi uma experiência bastante rica poder pesquisar e dissertar sobre o assédio moral no trabalho. Geralmente, dá-se muita atenção ao assédio sexual, deixando, muitas vezes, esse tipo de assédio passar despercebido. Entretanto, esse assunto tem crescido em matéria de interesse por parte dos psicológicos e assistentes sociais e muitos estudos têm sido feitos nos últimos anos.

Acreditamos, baseados no texto Assédio moral: a dignidade violada de Roberto Heloani, que o cerne do problema esteja na questão da hipercompetitividade. Portanto, é mister que se reveja e se desconstrua esse modelo, esse paradigma que não contempla o indivíduo em sua subjetividade; que não dá espaço para a dialogicidade, que não cria oportunidades para o indivíduo a partir da construção coletiva.

Portanto, cabe ao profissional do Serviço Social estar atento a essas problemáticas e intervir de forma a não deixar se instaurar de maneira crônica a sistemática da ideologia baseada na prepotência, na soberba e na pseudo superioridade intelectual e funcional daqueles que tentam se sobrepor sobre seus colegas numa tentativa desleal de esconder sua real condição de inseguro, e, assim, impingir no outro aquilo que lhe é próprio.


PS.: Escrito por: Lana Damasceno e Claúdia Raquel

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BATISTA, E. O que é serviço Social na área de saúde. CMI, 2004.

FREITAS, M. E. Quem paga a conta do assédio moral no trabalho? São Paulo 2007.

HELOANI, Roberto. Assédio moral: a dignidade violada. Aletheia, nº 22, p. 101-108, jul./dez. 2005.

http://www.assediomoral.org/spip.php?article1

Um comentário:

  1. Muito bom o texto.Vcs levantram questãoe importantes sobre esse tema , que por sinal deveria ganhar mais atenção, pois como vcs mesmo frizaram traz damos fisícos e psicólogicos.Parabens!

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