domingo, 3 de outubro de 2010

INFÂNCIA X VIOLÊNCIA INFANTIL: OS PREJUÍZOS PARA A SOCIEDADDE CONTEMPORÂNEA.

A Sociedade Atual e a Violência contra as Crianças: conseqüências, importância de uma infância saudável e contribuição da psicologia para a infância.

Capítulo I: Dos prejuízos para a Sociedade a partir da violência contra crianças

De acordo com o texto “O Resgate do vínculo mãe-bebê: estudo de casos de maus tratos” da autora Carolina Marocco Esteves, fica evidente a importância da relação de causa e efeito entre crianças que sofreram violências dos mais variados tipos (domiciliar, por negligência, psicológica, etc) e suas atuações no futuro como sujeitos em uma sociedade moderna. É o que diz em ESTEVES (2007): A violência pode ser vista em nossa sociedade dita “moderna” como uma forma de relação social: ela está diretamente ligada à forma de relação que as pessoas produzem e reproduzem. Ela acontece através de padrões, exclusões sociais e modos de vida, dentre outros fatores, que, no decorrer do século, foram se expondo às sociedades. Ainda sobre esse mesmo assunto, lê-se em ESTEVES (2007) o seguinte comentário feito a partir de ADORNO (1988): a violência é um tipo de manifestação que atenta contra a possibilidade de construção de sujeitos livres na sociedade e tem por referência uma vida reduzida e alienada. A mesma autora cita ainda na íntegra, ADORNO (1988): Não há vida em sua plenitude; sendo assim, durante sua manifestação, ela preenche o espaço da liberdade, ameaça constantemente a vida e faz alusão à morte e à destruição.

Portanto, crianças submetidas a constantes violências estarão no futuro predispostas a ter problemas de relacionamentos interpessoais, dificuldades em se enquadrar no mercado de trabalho (por apresentarem temperamento instável e irritadiço) predisposições também para comportamento bipolar (duplo comportamento) e tendências a reproduzir no meio social a violência sofrida na infância. Serão, quase que inevitavelmente, cidadãos que sentirão grandes dificuldades em se inserir nas instâncias culturais, esportivas, sócio-econômicas e religiosas de um mundo moderno exigente e implacável. A Sociedade pagará duras penas por ter que investir muito mais nesses adultos que sofreram violência na infância; terá que “produzir” mais profissionais e clínicas ou órgãos do tipo CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), sem falar nos centros de detenção (presídios). O melhor “remédio” seria então o preventivo. Atuar através dos órgãos competentes numa tentativa de mobilizar a sociedade civil para ajudar, por exemplo, na fiscalização desses atos de violência e na denúncia dos mesmos.

Capítulo II: Da importância de uma infância saudável para o desenvolvimento do futuro adulto

Tomando ainda como referência teórica o texto citado acima no Capítulo I, constata-se um número considerável de teóricos que mostram uma relação estreita entre infância saudável e desenvolvimento do ser na fase adulta. Um dos aspectos que citaria aqui, parte do conceito da transgeracionalidade. Nele, há uma ligação muito próxima entre mãe-bebê e essa relação transfere de geração para geração experiências psicológicas saudáveis ou doentias. ESTEVES (2007) cita ESCOSTEGUY (1997) para definir o conceito: uma transferência – normal ou patológica – realizada sobre o bebê, impondo-lhe, a partir de outra(s) geração(ões), a marca, para melhor ou para pior, de experiências psicológicas oriundas dos genitores. O interessante frisar é que o futuro adulto não aprenderá pelo sofrimento, maus-tratos ou problemas de afetividade com os genitores; pelo contrário, perpetuará em sua prole tais relações de dor. É o que nos assegura ESTEVES (2007) quando se refere a FRAIBERG, ADILSON e SHAPIRO (1994) e assim se expressa em seu texto: destacam que não é possível afirmar que os genitores que foram maltratados, no momento em que se tornarem pais, serão guiados em seu comportamento por seus sofrimentos e feridas e encontrarão a oportunidade, na maternidade e na paternidade, de fazer algo diferente de seus pais. E mostra outro argumento dos mesmos autores citados, quando diz que “...essas crianças carregam nas costas o difícil passado dos pais desde o nascimento, como se o genitor estivesse condenado a repetir seu passado trágico com o filho.

Finalmente, cabe ainda ressaltar a importância das relações afetivas na infância para determinar de forma positiva a vida do futuro adulto. Um dos maiores ícones desse assunto é o psicólogo e pedagogo Jean Piaget. DE FARIA (1998) assim o cita: “o esquema afetivo – amor – construído simultaneamente ao objeto-mãe, pode aparece em relação a este primeiro objeto de amor, mas pode também ser generalizado a outros como o pai, os irmãos, os companheiros, etc. (...) O sentimento que a criança tiver experimentado no passado pela mãe orientará os sentimentos futuros”.

Capítulo III: Da contribuição da psicologia para a compreensão da infância

A contribuição da psicologia para a compreensão da infância se dá em sua maior parte através dos psicólogos educadores (pedagogos) como Piaget, Vygotsky, Winnicott, dentre outros.

Piaget elaborou parte de sua teoria sobre a infância, criando a teoria do desenvolvimento da criança. Nela, o autor vai criar conceitos para descrever características intrínsecas da fase da infância. Fala da inteligência da criança entendida num processo ativo de contínua interação e cria o termo ‘construção do conhecimento’, que mais tarde ficaria conhecido como ‘construtivismo’. O enfoque de sua teoria é dado ao aspecto cognitivo da criança, ao contrário de Vygotsky, que dá ênfase ao aspecto social, e, por sua vez, Winnicott vai falar sobre o desenvolvimento da criança a partir do aspecto afetivo-emocional. Retornando a Piaget, esse autor, segundo RAMPAZZO (2009) assim se refere à função do desenvolvimento na criança: (...) “a função do desenvolvimento para Piaget consiste em produzir estruturas lógicas que permitem ao indivíduo atuar sobre o mundo de formas cada vez mais flexíveis e complexas, investigando quais os processos cognitivos envolvidos”. E acrescenta: (...) “olhava a criança como um ser ativo na sua aprendizagem, que tem vontade e uma maneira própria de adquirir o conhecimento”. Para investigar essas crianças usou o ‘método clínico’. Para encerrar sobre Piaget, ainda usando como referência bibliográfica RAMPAZZO (2009) apud (RAPPAPORT, FIORI e DAVIS, 1981), são esses os conceitos fundamentais de Piaget: a maturidade do sistema nervoso, a interação social, a experiência física, o estímulo ambiental e a equilibração Sobre o último conceito, a equilibração, vale salientar que ele é compreendida a partir de dois outros conceitos: a Assimilação e a Acomodação. A Assimilação se dá quando a criança entra em contato com situações inusitadas e entra, no que Piaget chama, de Desequilíbrio; A Acomodação se dá quando a criança já consegue formar “novos recursos e desenvolve estruturas que ainda não tinha (RAMPAZZO, 2009).

Vygotsky, segundo RAMPAZZO (2009) “construiu propostas teóricas e inovadoras sobre as relações entre pensamento e linguagem, a natureza do processo de desenvolvimento da criança e o papel da instrução no desenvolvimento infantil”. Vygotsky assim define o desenvolvimento infantil em RAMPAZZO (2009): “um complexo processo dialético, caracterizado pela periodicidade, irregularidade no desenvolvimento das diferentes funções, metamorfose ou transformação qualitativa de uma forma em outra, entrelaçamento de fatores externos e internos e processos adaptativos”. Ainda sobre o desenvolvimento da criança RAMPAZZO (2009) acrescenta: (...) “Vygoté resultado das interações dialética do homem e seu meio sócio-histórico cultural. (...) o cérebro humano é compreendido como um sistema de grande elasticidade, no qual sua estrutura e modo de funcionamento são moldados ao longo da espécie do desenvolvimento do indivíduo”. Sobre o desenvolvimento infantil, Vygotsky (1991) apud RAMPAZZO (2009) “preconiza que devemos considerar não apenas o nível real da criança, mas também o seu nível de desenvolvimento potencial, a sua capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de outras pessoas mais capazes”. E acrescenta: “as respostas das crianças ao ambiente no início são desencadeadas por processos inatos. Na mediação dos adultos os processos psicológicos mais complexos acabam tomando forma”. Finalmente, cabe enfatizar como contribuição de Vygotsky, o papel importantíssimo da linguagem; é o que diz RAMPAZZO (2009): “Ele faz uma argumentação elaborada sobre o desenvolvimento humano, demonstrando que a linguagem é o próprio meio pelo qual a reflexão e a elaboração da experiência ocorre; é um processo pessoal, e ao mesmo tempo, profundamente social”.

A contribuição de Winnicott para a compreensão da infância se dá na medida em que enfatiza o desenvolvimento da criança a partir da saúde emocional da mesma. Isso acontece num contexto de parceria entre a mãe e o bebê. É no seio da família que a mãe influenciará seu bebê, dando-lhe o essencial: afeto e carinho, e, com isso, estará estimulando o lado emocional da criança. Referindo-se ao autor, RAMPAZZO assim declara: “ (...) “o desenvolvimento saudável da criança, de acordo com Winnicott (1989), a preocupação materna primária é de fundamental importância “. E acrescenta: (...) “um bebê sem estimulação, por exemplo, pode se tornar uma criança idiotizada, apática”. Em ESTEVES (2007), a autora relata o que WINNICOTT (2000) expressa sobre a importância da relação afetivo-emocional entre mãe-bebê: (...) “o autor chama de preocupação materna primária à transformação sofrida pela mãe, nos meses finais da gravidez e nos subseqüentes, que objetiva a construção de um duo unificado, ao permitir que a mãe possa sentir pelo filho. No momento em que se consegue estabelecer um vínculo saudável com a mãe, proporcionando uma abertura pra que ela possa falar sobre suas questões, fantasias, medos, esperança, infância, pais, futuro, e, principalmente, o modo como se relaciona com os filhos, está se realizando uma maternagem com relação a ela; agora o terapeuta tem a função de ser uma mãe suficientemente boa, e a mãe, a criança que necessita dessa maternagem, pois, na maioria das vezes, não a recebeu na sua infância. Assim começa a intenção psicológica no próprio vínculo terapêutico para que, posteriormente, a mãe consiga modificar sua relação com a criança.



R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S

01. ESTEVES, Carolina Marocco. O Resgate do Vínculo Mãe-Bebê: estudo de caso de maus tratos. Porto Alegre; 2007, xérox.

02. PIAGET, Jean. A Formação do Símbolo na Criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. In: FARIA, Anália Rodrigues de. O Desenvolvimento da Criança e do Adolescente Segundo Piaget. 4 ed. São Paulo: Ática, 1998.

03. RAMPAZZO, Lisnéia Aparecida. Psicologia Geral: serviço social. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.

04. VYGOTSKY, Lev Seminovich. A Forma Social da Mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1991. In: RAMPAZZO, Lisnéia Aparecida. Psicologia Geral: serviço social. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.

05. WINNICOTT, Donald Woods. Tudo Começa em Casa. São Paulo: Martins Fontes, 1989. In: RAMPAZZO, Lisnéia Aparecida. Psicologia Geral: serviço social. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.

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