sábado, 30 de outubro de 2010

POSITIVISMO

O POSITIVISMO DE AUGUSTE COMTE

Para Comte, o Positivismo é uma doutrina filosófica, sociológica e política. Surgiu como desenvolvimento sociológico do Iluminismo, das crises social e moral do fim da Idade Média e do nascimento da sociedade industrial – processos que tiveram como grande marco a Revolução Francesa (1789-1799). Em linhas gerais, ele propõe à existência humana valores completamente humanos, afastando radicalmente a teologia e a metafísica (embora incorporando-as em uma filosofia da história). Assim, o Positivismo associa uma interpretação das ciências e uma classificação do conhecimento a uma ética humana radical, desenvolvida na segunda fase da carreira de Comte. (www.wikipedia.org).

Auguste Comte pretendia reformar o catolicismo desenvolvendo, antes de tudo, o preceito da caridade fraternal, desembocando assim no sonho do ‘altruísmo universal’.

Dentro da nova sociedade que ele procurava organizar, Comte tomava como regra principal, a JUSTIÇA. “A chacun selon sa capacité, à chaque capacité selon ses oeuvres”. (Précis d’histoire de la philosophie, p. 706) (A cada um segundo sua capacidade; suas obras segundo cada capacidade) (tradução minha).

O núcleo da filosofia positivista é a chamada lei dos três estágios ou lei dos três estados (teológico, metafísico e positivo ou empírico), que se traduz em uma nova periodização do processo histórico e uma nova classificação das ciências.

 Teológico: o ser humano explica a realidade apelando para entidades supranaturais (os "deuses"), buscando responder a questões como "de onde viemos?" e "para onde vamos?"; além disso, busca-se o absoluto;

 Metafísico: é uma espécie de meio-termo entre a teologia e a positividade. No lugar dos deuses há entidades abstratas para explicar a realidade: "o Éter", "o Povo", "o Mercado financeiro", etc. Continua-se a procurar responder a questões como "de onde viemos?" e "para onde vamos?" e procurando o absoluto;

 Positivo: etapa final e definitiva, não se busca mais o "porquê" das coisas, mas sim o "como", através da descoberta e do estudo das leis naturais, ou seja, relações constantes de sucessão ou de coexistência. A imaginação subordina-se à observação e busca-se apenas pelo observável e concreto. (www.wikipedia.org).

II – A INFLUÊNCIA DO POSITIVISMO NO BRASIL

O texto abaixo é a transcrição, na integra, de trabalho publicado por Nady Moreira Domingues da Silva, professora assistente do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Maranhão, em site da Internet:

Foi durante o chamado Segundo Império, isto é, por volta de 1850 que as idéias positivistas chegaram ao Brasil, trazidas por brasileiros que foram completar seus estudos na França, tendo mesmo alguns sido aluno de Auguste Comte. A indagação que cabe fazer aqui é: por que no Brasil tais idéias foram tão bem aceitas e divulgadas com tanto vigor? Para responder a esta questão parece-me importante traçar em linhas gerais a situação sócio-política do Brasil no Segundo Império.

No período monárquico a situação conseguira gerar insatisfação entre os políticos e intelectuais. A política adotada pelo Imperador D. Pedro II era de tal ordem que o poder estava sempre em suas mãos. Mesmo sendo o Brasil uma monarquia constitucional representativa e hereditária, isto é, existindo uma Constituição e um regime parlamentar, o Imperador era o árbitro de partidos e de estadistas, podendo fazer e desfazer ministérios e ministros. Opor-se ao poder da coroa era o mesmo que candidatar-se ao ostracismo político. O Imperador conseguia sempre neutralizar a oposição, pois, a luta política realizava-se entre dois partidos, o Conservador e o Liberal, que se revezavam no poder, sendo os membros do Parlamento Imperial representantes da classe ruralista e eleitos por ela, ou seja, representantes da única aristocracia que o Brasil conheceu.

O exército era veículo de ascenção social e os antigos amantes da farda eram substituídos por jovens que amavam as letras e as matemáticas em detrimento do antigo sentimento da velha classe militar.

Quanto ao clero, nenhuma influência exercia nas classes dirigentes. Submetido ao Estado pelo regalismo, desacreditado junto às classes menos favorecidas e ignorado pelos indivíduos voltados para o pensamento racionalista, era inativo e chegava mesmo a reconhecer que o espírito do catolicismo estava a definhar no nosso país. As relações entre a Igreja e o Estado eram estabelecidas na Constituição do Império e tolhiam a Igreja, prendendo-a aos interesses daquele.

No juramento da coroação o Imperador comprometia-se a defender a religião católica que obviamente era a religião oficial.

Àquela época a questão política crucial era a da escravatura, combatida pelos positivistas, mas defendida pelos conservadores que viam no trabalho escravo um dos suportes da nossa economia essencialmente agrícola. O Imperador adotava medidas paliativas e preparava uma "abolição progressiva", mediante sanção de leis regulamentadoras, inicialmente quanto ao trafico escravo, depois quanto aos escravos de idade avançada e ainda a famosa Lei do Ventre Livre, com o que, fatalmente, a longo prazo, não haveria mais escravos no país.

Ao lado do problema da escravidão africana, registra-se também a existência de uma classe prenhe de deformações profissionais. Eram os filhos, representantes ou herdeiros dos senhores de engenho ou das fazendas de café, cuja cultura intelectual originava-se, via de regra, de um curso de humanidades em colégio Jesuíta e complementava-se na Universidade de Coimbra, inicialmente, e depois, nas duas faculdades de Direito brasileiras (Recife e São Paulo). Cada bacharel era o "doutor" de um determinado setor da realidade que era visto como um corpo autônomo.

Esta "cultura intelectual" era mais literária que científica, e as classes dirigentes procuravam em geral as profissões jurídicas. Somente os militares do exército e da marinha, por um lado, e por outro lado, os engenheiros e médicos, dedicavam-se a estudos científicos.

É natural que, num contexto como o que se expôs, um país que não possuía uma filosofia definida aspirasse por idéias que lhes desse uma nova concepção de valores e orientasse os seus atos. O Positivismo vem preencher esta lacuna, traz respostas, válidas para a época cientificista e mesmo materialista do século XIX que, note-se bem, não era privilégio do Brasil.

Já desde 1850 as doutrinas comteanas começaram a aparecer na Escola Militar do Rio de Janeiro. Posteriormente foram se firmando sempre no meio estudantil, como seja: Colégio Pedro II, Escola da Marinha, Escola de Medicina e Escola Politécnica: aqui, as teorias positivistas eram ainda nitidamente cientificistas e aplicadas pelos brasileiros aos campos da Física, Matemática e Biologia, sem a tendência apostólica que iria ser efetivada por Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes, a partir de 1881, quando o primeiro retorna da França e recebe plena adesão do segundo.

Mas, o marco inaugural da difusão do Positivismo, em caráter especulativo, é a obra de Luís Pereira Barreto, As Três Filosofias, cujo primeiro volume foi publicado em 1874 e o terceiro jamais chegou à publicação.

Dois anos depois, em 1876, funda-se a Sociedade Positivista Brasileira, que mais tarde viria a se transformar na Igreja Positivista do Brasil.

É interessante notar que o Positivismo no Brasil, afora a ortodoxia dos dois apóstolos Miguel Lemos e Teixeira Mendes e do grupo que viria a freqüentar a Igreja da Humanidade à Rua Benjamin Constant, sofreu algumas adaptações para que viesse a se enquadrar na nossa realidade nacional.

Tais positivistas são apresentados então em dois grupos: os ortodoxos (liderados pelos senhores Miguel Lemos e Teixeira Mendes, podendo-se aqui incluir oficiais do Exército e da Marinha, professores do Colégio Pedro II e das escolas de matemática do Rio de Janeiro) e os dissidentes onde podemos incluir o já citado Luís Pereira Barreto, Tobias Barreto e Sílvio Romero, bem como os políticos que adotaram a linha positivista ao regime monárquico e buscaram no comtismo elementos fundamentadores da República.

Foi no processo de consolidação da Proclamação da República no Brasil que o positivismo passou a influenciá-la de forma contundente. Nesse processo, destacou-se o coronel Benjamim Constant, que, mais tarde, seria homenageado com o epíteto “Fundador da República Brasileira”.

A conformação atual da bandeira do Brasil é um reflexo dessa influência na política nacional. Na bandeira lê-se a máxima política positivista Ordem e Progresso, surgida a partir da divisa comteana O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim, representando as aspirações a uma sociedade justa, fraterna e progressista. (www.wikipedia.org).

Outros positivistas de importância para o Brasil foram Nísia Floresta Augusta (a primeira feminista brasileira e discípula direta de Auguste Comte), Miguel Lemos, Euclides da Cunha, Luís Pereira Barreto, o marechal Cândido Rondon, Júlio de Castilhos, Demétrio Ribeiro, Carlos Torres Gonçalves, Ivan Monteiro de Barros Lins, Roquette-Pinto, Barbosa Lima, Lindolfo Collor, David Carneiro, David Carneiro Jr., João Pernetta, Luís Hildebrando Horta Barbosa, Júlio Caetano Horta Barbosa, Alfredo de Morais Filho, Henrique Batista da Silva Oliveira, Eduardo de Sá e inúmeros outros. (www.wikipedia.org).

Auguste Comte viveu numa época em que o modelo mecanicista e determinista de mundo ainda estava em plena voga. Acreditava-se de forma unívoca na ciência e nos modelos que a sociedade vinha assumindo por meio das revoluções industrial e tecnicista. Portanto, muito dessas concepções influenciaram diretamente o pensamento desse filósofo francês. E, é claro, não foi difícil para o mesmo compreender e estabelecer conceitos baseados na ordem, na lei, na moral e no progresso.

No Brasil, a ideologia positivista também abriria caminhos para influenciar a sociedade, principalmente, no momento de consolidação da Proclamação da República no Brasil. E essa influência seria importante para assegurar questões axiomáticas como ordem e progresso. Também se pode afirmar que setores da sociedade como a Igreja , o Exército, etc., se sentiram bastante contemplados com essas máximas tradicionalistas dos positivistas.

Entretanto, a ciência moderna dizimou com as prerrogativas de uma realidade universal harmoniosa e ordenada. O progresso trouxe também conseqüências nada animadoras como o desequilíbrio absurdo do meio ambiente e todos os teóricos da atualidade são unânimes em dizer que o mundo é caótico, confuso e dominado pelo princípio da incerteza. É assim na Física, é assim na sociedade. O que torna Comte e o Positivismo ultrapassados no contexto atual é sua ênfase no determinismo, na hierarquia e na obediência, sua crença no governo da elite intelectual e sua insistência em desprezar a teologia e a metafísica.




B I B L I O G R A F I A

F.-J. THONNARD, A. A. Précis d’histoire de la Philosophie. 2ª ed. Desclée & Cie, Éditeurs Pontificaux, Paris, 1948.

“OBRAS CONSULTADAS ‘ONLINE’”:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Positivismo#M.C3.A9todo_do_Positivismo_de_Augusto_Comte

http://cynthia_m_lima.sites.uol.com.br/positi.htm

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